terça-feira, 24 de abril de 2012

O Dia-a-Dia de um "Anjo"


Falar do meu Angelo Gabriel, embora pareça ser sempre relatos de lutas, momentos de tensão e incertezas, é também falar de descobertas, momentos de alegrias, de dia-a-dia, como qualquer outra família vivencia.

Mesmo com todas as limitações de sua particularidade como ser humano, meu pequeno me proporciona momentos dignos de album de fotografia, coisas que certamente o deixará envergonhado quando reveladas a sua primeira namorada (mas não se preocupe meu filho não as revelarei por aqui..haha).



NANA-NENÉM

Angelo costuma dormir entre 8 e 10 horas da noite,e acorda sempre entre 2h30 e 4 da madrugada para mamar,feito isto ele fica acordado o resto da madrugada, fica um tempo no colo do pai para arrotar (muuito importante senhoras mamaes e senhores papais), depois o colocamos em seu berço e la ele fica conversando até pegar no sono novamente. 


Quando esta bem calmo, deixamos a tv ligada em função "mudo" somente para clariar o quarto (visto que agora ele dorme no mesmo quarto que o papai e a mamae) ou acendemos a luz do banheiro, para clarear a suite. 
Se le está mais agitado é necessário deixar a luz acesa e o som ligado, proximo ao berço sempre deixamos seu aparelho de som e os cds que ele mais gosta, dentre eles constam cds de cançoes de ninar do pink floid para bebes, cds de musicas infantis com varias musicas da xuxa, galinha pintadinha,aline barros e cia, e cds de musicas gospel como irmão lazaro dentre outros, que ele acostumou a ouvir junto da mamae. ele fica o restro da madrugada cantando entre AAA eeee ANGUUUUU"..KKK ele usa de todos os sons que consegue emitir para expressar sua apreciaçao musical.

Ha vezes em que somente ouvir a música não é suficiente, e precisamos leva-lo no meio da madrugada para a sala pra ele assistir desenhos. Normalmente o pocoyo, backardygans, happy feet, ou algum outro dvd que ele goste. Não é nada fácil acompanhar o pique deste baixinho! Depois dessa maratona, ele tira um cochilo entre 5 e 6 da manha, até as 8 ou 9 horas, ultimamente tem dormido ate 9 e 10 horas. Esta assim desde que a mamae saiu do trabalho, mas antes ele acordava quando a eu chegava do trabalho as 23h (pois eu trabalhava no shopping) e dormia entre 3 e 4 horas da manhã até entre 7 e 8 horas. Foram tempos realmente difíceis, mas era gostoso ver ele acordar para me ver chegar, o tenso era brincar quando eu queria dormir rs..


COMER-COMER

Desde que saiu do hospital e teve acompanhamento com nutricionista, sempre procurei seguir a dieta e os horarios recomendados e deu certo. É claro que nem sempre se é possivel seguir a risca, pois as vezes ele dorme na hora do almoço ou precisa fazer um jejum por causa de exame, ou esperar pela fisioterapia, e com isso acaba mudando um pouco os horários da alimentaçao, mas na medida do possível procuro seguir a formula de comer a cada três horas. De manha no café (entre 8h), ele come um pão molhado no leite (somente o miolo para facilitar a deglutição e mastigaçao) ou bolacha de maizena molhada com leite (ele adora), passadas três horas, normalmente por volta das 10,lhe dou um danoninho ou flan (que e o preferido dele) ou uma fruta, a quantidade servida vai depender do quanto ele aproveitou do café da manhã, ou como ele mostra disposição para o almoço, pois as vezes em função de sua medicaçao controlada, ele acaba dormindo antes do almoço retardando um pouco a próxima refeiçao, e para ter maior proveito do sono visto que costuma ficar acordado boa parte da madrugada, procuro dar algo mais consistente no lanche pra que ele possa descansar sem fome.

O almoço ele come sopa (macarrão, carne vermelha moida ou frango, legumes e caldo de feijão) ou uma papa de arroz, com feijão legumes cozidos amassados com molho de carne moida. Também adora quando tem banana picada em meio a comida (puxou a mamae ehehe).
O suco vem um tempo depois para adoçar a boca ou matar a sede, as vezes em seguida do almoço mais em pequena quantidade, 50 ml no maximo. Por volta das 3 ou 4h que vai depender da hora que ele acorda depois do almoço, ou da hora que efetivamente almoça, tem o lanche. 
O lanche sempre uma fruta ou um danone. Anoite por volta das 7h vem a janta, na mesma consistência do almoço, e antes de dormir por volta das 10h a mamadeira com leite
ninho e mucilon multicereais ao todo 250 ml.

Quando ele se apresenta muito sonolento durante o horario da janta, adianto a mamadeira, para evitar engasgamento durante a refeiçao, pois criança que se engasga muito enquanto come ou mama, tem GRANDES chances de contrair pneumonia por aspirar líquidos ou fragmentos alimentares que vão pro pulmão propiciando a instalaçao da pneumococos (bactéria que causa a pneumonia) e sua proliferação.


BRINCAROLAR e DESCONTRAIR


Mesmo não tendo a funcionalidade motora ideal para sua idade, Anjo tal como toda criança gosta de brincar, gastar energia e se divertir. Logo pela manhã dentre as primeiras coisas a fazer para garantir o sorriso deste grande-pequeno basta deixa-lo matar um tempinho na cama da mamãe antes de levantar para o café.




Isso mesmo, o sapequinha não fica sem curtir um pouquinho com a mamae e o papai nas primeiras horas do dia. 
Sempre que o pai acorda para se arrumar para o trabalho, antes de tudo pega o filhote do berço, coloca-o na cama entre ele e a mamãe que vos fala, e ficamos ali sorrindo e brincando os tres, as vezes ate tiramos um breve cochilo de uns 30 minutos, Anjo simplesmente adora este momento. 

As vezes elege um dos dois para encostar seu narizinho, cheirar ate dormir ou para simplesmente dar mais atençao. 
O sorriso estampado em seu rosto seguido de uma sonequinha é a maior resposta de satisfaçao de começar o dia ao lado dos corujões.

Enfim depois de um caprichado café da manhã, em sua cadeirinha Angelo se balança movimentando as pernas na varanda de casa observando o dia esquentar, ouvindo os passaros do jardim, olhando Kirara (a gatinha) correndo atrás das borboletas, e cantarolando suas musicas preferidas que a mamae coloca pra tocar enquanto ele se delicia com os raios de sol (ele adora tomar sol), gracioso o branquelinho até reluz.


Depois sua diversão é assistir seus desenhos favoritos, Pocoyo, backyardygans e galinha pintadinha. 




Ele ri e quase pula da cadeirinha de tanto que se diverte com o os personagens. Quando se cansa da cadeira, dois colchonetes sao limpos e postos ao chão e sobre eles espalho brinquedos e travesseiros para o pequeno ficar bem a vontade. Ali ele esperneia, rola e as vezes o encontro no chão por rolar pra fora do colchão.
Os brinquedos que mais ganham sua atenção sao os musicais e luminosos.
Ja que é a unica criança da casa, a mamãe se dispõe a brincar com ele entre uma atividade domestica e outra, para distrair e estimular o desenvolvimento do nosso protagonista.

Dentre seus brinquedos preferidos destacamos:
Sua mesa de atividades (que eu costumo chamar de Mesinha mágica); tamborzinho musical; o cachorro azul musical; martelinho sonoro; Pocoyo e Pato de pelúcia; Robozinho Roby, mobile musical de animais.



Sempre que posso dedico um pouco do meu tempo para brincar com meu pequeno, para ele sou suas mãos quando o ajudo a segurar os objetos, sou sua vóz exclamando as palavras que ele ainda não sabe dizer mas que seu olhar e seu sorriso o dizem, sou suas pernas quando corro pela casa o carregando, pulando, dançando, correndo na chuva, segurando-o e colocando-o em pé ou ajudando-o a chutar uma bola.
tento da melhor forma possivel faze-lo viver sensaçoes, como a de bater no tambor e ouvir o som, de segurar o chocalho, de sentir texturas diferentes como massinhas, geleias, quente, frio etc. Anjo adora experimentar coisas novas e se encanta com os pequenos movimentos que com ajuda consegue fazer, e por vezes até sozinho (aí, quem se encanta sou eu rs).

Outra atividade que esse garoto é apaixonado é brincar em sua piscininha. Sua madrinha o presenteou com uma piscina inflável quando ele tinha aproximadamente um ano, entretanto como morávamos em apartamento e devido a fragil saúde do anjinho, não pode usufruir tão cedo, mas ainda assim uma vez cismei de encher a piscina pra faze-lo experimentar, é claro que molhei quase que seu quarto todo, mas valeu a pena. Eu o segurava e ele esperniava todo feliz dentro da água. Se ja era o máximo tomar banho em sua banheira  (que diga-se de passagem ja nao o cabe mais) imagina naquela piscina que o cabia dois dele de uma unica vez.
Depois que nos mudamos para uma casa com uma enorme varanda, de praxe nos dias quentes eu enchia sua piscina, como ele ja estava bem maiorzinho, dava para apoia-lo de bruços na borda e deixa-lo mais a vontade, era um calmante para ele nos dias que ele estava mais irritado. quando a mamàe nao sabia mais o que fazer para acalma-lo, lá estava minha amiga piscina para me ajudar ahaha..era um santo remédio, depois de um gostoso banho com direito a mangueira, esguichos e mta bagunça,meu pequeno dormia adoravelmente.


Esta experiência nos motivou a coloca-lo em aulas de nataçao para bebês. E era adoravel acompanha-lo, durante meia hora todas as manhãs (embora normalmente conseguiamos frequentar duas ou tres vezes da semana), ele saía das aulinhas todo relaxado. Infelizmente não durou muito tempo, pois ele adoeceu um mes depois de começar as atividades de hidroterapia, e com o período de chuvas ficou ainda mais difícil retornar, mas os planos são de retornarmos muito em breve.

Outras brincadeiras como serra-serra-serrador, cavalinho, e balançar e jogar pro alto também são muito apreciadas pelo meu pequeno.

e como não poderia ser, como toda criança, Angelo adora passear. Coloca-lo no carrinho e passear pelas ruas, é dar a ele momentos intensos de emoção .


MANIAS

Crianças tem suas manias, algumas eles desenvolvem sozinhos mas a maioria são os próprios pais quem as ensinam (voluntariamente ou involuntariamente).

Meu Angelo tem mania de morder as mãos quando esta nervoso ou feliz, desde que descobriu suas mãos elas se transformaram em seu principal canal de expressão com o mundo , tudo que o agrada ou que o desagrada ee reflete mordendo as mãos, ou arranhando as pernas, ou esfregando uma mao na outra como quem planeja dominar o mundo ( rs...)

Para dormir Angelo pegou o habito de dormir com o papai, pois sempre que meu marido chegava do trabalho a primeira coisa a fazer era pegar o pequeno e coloca-lo pra dormir de bruços em seu peito. E assim ele pegou a mania de esperar o papai chegar para dormir em seu colo, e tambem nas madrugadas quando acorda é o pai quem o coloca pra dormir novamente, as vezes a mãe ajuda, mas parece que não tenho o mesmo talento.

Quando acorda tem mania de balançar os pés como se estivesse em sua cadeirinha de balanço, aliás como se estivesse ainda em minha barriga, pois lembro-me bem de uma ultrasonografia em que eu o via movimentando as pernas durante o exame, éra exatamente o mesmo movimento.


Vivendo e aprendendo..

...Enfim, o Angelo tal como toda criança faz birra quando quer atenção, deita e rola quando esta feliz, gargalha quando esta alegre e não tem dó de chorar quando não tem o que quer, desde o colo da mamãe até um pedaço de bolo pois tudo o que ele ve alguem comer ja abre a boca esperando a sua vez rs..

As vezes algumas amigas (que por ventura ja são mães)me perguntam como sei quando ele sente dor ja que não fala, como sei quando ele quer algo, quando esta feliz, dentre outras coisas que ele ainda não sabe me dizer com palavras. E eu sempre respondo que é tal como um bebeziho, ele pode não falar mas voce sabe quando ele tem fome, quando sente dor (ainda que não consiga de imediato saber onde), sabe quando precisa ser trocado ou quando simplemente precisa dar carinho. Ser mãe é numa linguagem "moderna" fazer um download de varias funçoes. Tudo vem num pacote fechado ou zipado que você só precisa descompactar e abrir. São coisas que você nem  sabe dizer como que sabia, quando foi que aprendeu, mas você desenvolve tais habilidades como:


  •  Ser saudável sempre (mãe nunca fica doente, tem no máximo uma dor de cabeça).
  • Não dormir (mães conseguem dormir por apenas 4 horas e estarem pronta pro que der e vier) .Meu deus, ainda me pergunto como eu conseguia dormir por 8 horas seguidas e ainda sentir sono? (mas confesso que não me incomodaria se eu pudesse dormir ao menos uma noite por 6 horas ininterruptas). 
  • Mães sabem tudo : que remédio tomar, pra onde ir, com quem falar o que fazer, onde estão todos os objetos, perdeu algo na escola? não se preocupe, pergunte a uma mãe ela saberá onde esta (sabe?). 
  • Mãe é um ser especial dotada de dom divino, praticamente anjos da guarda com a missão de cuidar da obra do criador: a vida.  

Mas mães de crianças especiais como meu Angelo e tantas outras crianças ainda mais especiais em sua peculiar maneira de viver e evoluir, são anjos de uma hierarquia ainda maior, pois quanto mais especial uma obra, mais importante e melhor deve ser guardada.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

De volta ao hospital - Parte 2

Olá a todos! É a primeira vez que eu escrevo diretamente aqui, normalmente quem posta é sempre minha esposa Adriana.


Vim falar um pouco sobre esse nosso último mês. Como todos sabem, o Anjinho possui uma válvula para a hidrocefalia. Esta fica ligada a um cateter que desce da cabeça dele até a cavidade abdominal. Ou seja, a válvula manda o líquido cerebral do Anjo para a barriguinha dele. Mas recentemente, como já foi mencionado no último post, o cateter da válvula do Anjo se rompeu, causando assim disfunção da válvula e acúmulo de líquido cerebral na cabeça dele.

Primeira internação
O Anjo foi internado, dia 8 de março de 2012, para repor a válvula, com o Dr. Roger Rotta. A cirurgia foi feita no dia 9, e ocorreu tudo bem. Passaram-se alguns dias e notamos que ele se incomodava muito com a barriguinha. Era de se esperar, claro, ele havia feito uma cirurgia, não? Mas era o começo dos sintomas do que estava por vir.


Remoção dos pontos

Passaram-se 10 dias da cirurgia de meu pequeno. Neste meio-tempo, abriram 2 pontos da cabeça do Anjo. Os da barriguinha estavam intactos, mas como ele havia coçado no dia anterior, a pele estava irritada. Mas de qualquer forma, havia chegado o dia da avaliação do Neurocirurgião. O doutor avaliou-o e disse que poderíamos retirar os pontos. Ficamos receosos, pois os ferimentos pareciam ainda bem abertos, fora a irritação da barriguinha do bebê e os 2 pontos abertos na cabecinha dele. Duvidosos, acabamos indo ao P.A. Mas estava cheio demais para conseguirmos atendimento.

No dia seguinte, voltamos lá. Se não estava igual ao dia anterior, estava pior. Então começamos a rodar Cuiabá atrás de um hospital que não estivesse tão lotado: Santa Rosa, Hospital Geral, São Mateus, São Judas Tadeu. Neste último, conseguimos atendimento, graças a uma enfermeira muito solícita. Porém não conseguimos remover os pontos, pois ao remover o primeiro ponto na barriguinha dele (note que a pele ainda estava irritada) saiu uma pequena quantidade de sangue e a enfermeira achou melhor esperar um pouco mais. Conversamos com o pediatra novamente, e ele nos disse que deveria, sim, fazer a remoção dos pontos, pois o corpo do bebê poderia começar a rejeitar por ser um corpo estranho. Tivemos que voltar de noite no Jardim Cuiabá novamente, onde finalmente cumprimos essa tarefa (com mais facilidade até do que imaginávamos que seria).

Segunda Internação
No dia seguinte após a remoção dos pontos, Angelo começou a ficar muito irritado. Levamos ele para avaliação do pediatra novamente, e o doutor passou alguns exames para fazermos. No dia seguinte, ele ficou muito mais irritado, então chamamos a equipe de atendimento da home-care, e a médica de plantão suspeitou de infecção no corte. A equipe levou o Anjo para o hospital Femina, e os pediatras de plantão confirmaram a infecção através de uma ultra-sonografia. Fizemos a internação para tratamento.


Após 9 dias internado (de 22 a 31 de março) e um severo tratamento de antibióticos, voltamos para casa (ainda com tratamento em antibióticos, agora via oral).

Pneumonia


 Passados alguns dias, o Anjo começou a apresentar febre alta. Procuramos novamente o pediatra, e ele pediu um Raio-X do tórax pois suspeitava de pneumonia. Fizemos o exame, e levamos para avaliação do doutor. Ele confirmou que o bebê estava com pneumonia e receitou um novo antibiótico, mesmo ele já estando fazendo uso de um. Nesta noite, algum tempo após o bebê ter tomado o antibiótico, jantado e tudo mais, ele teve vômito em jato. Pensamos: "Se ele não aceita o medicamento via oral, vai ter que ser direto na veia. Vamos pro hospital de novo!", e fomos.

Terceira Internação
No outro dia (Sexta-feira santa, dia 6 de abril de 2012) estávamos nós novamente fazendo internação do Angelo no Hospital Jardim Cuiabá. Foi confirmada uma pneumonia no bebê, um leve resquício de infecção na barriguinha e sinusite. Foram 12 dias de tratamento de antibiótico (novamente), além de incontáveis furadas que ele levou para pegar veia, pois ele é muito agitado e o abocate saía com facilidade, perdendo a punção. Mas lá pelo oitavo dia ele já estava com o comportamento normal dele, bagunceiro como sempre, e ficamos somente aguardando o fim do tratamento do antibiótico e a equipe de Home-Care em conjunto com a Unimed autorizar tudo que era necessário para que pudéssemos voltar pra casa.


Casa, enfim!
Hoje (18/04/2012) pela manhã nós voltamos para casa! O Anjo não cabia em si de alegria de deitar no berço dele novamente!

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ENFRENTANDO O MEDO: DE VOLTA AO HOSPITAL!

Sempre ouço comentários a meu respeito que não são verdades. E nem estou falando das famosas "más" línguas e sim dos muitos elogios e parabenizações que recebo por tudo quanto tenho passado com meu pequeno desde seu nascimento.
Com frequência as pessoas me dizem: "nossa, você não se abala!" , "eu não conseguiria superar tudo isso como você" ou "você é uma muralha, uma mulher forte".
A verdade é que sou o que preciso ser quando preciso ser, e nada mais.
Em nenhum momento da minha vida imaginei viver tais circunstâncias, nem me pergunto porquê as vivo, simplesmente vivo o que posso, como posso, sem me sentir melhor ou pior que ninguém e acho (acho não, acredito) que todos têm capacidade de superar momentos difíceis. As vezes podem até achar que não, mas a força surge quando precisamos, isso devemos ao instinto de sobrevivência e quem não se adapta, morre! (assim diz a teoria darwinista).
O que quero dizer é que eu não sou essa muralha, nem inabalável, eu tenho medos e traumas por toda esta situação vivida, mas se não posso mudar as coisas, não adianta se desesperar perante elas (embora as vezes eu me desespere realmente).

Desde que Angelo saiu do hospital e foi pra casa em home care, enquanto o pai Rafael trabalhava, meu trabalho era acompanhar sua rotina medica, conhecer médicos, enfermeiros, receber técnicos de enfermagem, fazer consultas de rotina ou de emergência, isso exigia pelo menos 8 horas do meu dia fora alguns desgastantes passeios de ambulância.

Ah ambulância! como era terrível! até hoje não me acostumei.

Entrei numa ambulância a primeira vez para levar meu anjo (que ainda estava internado na UTI NEO  do HGU) do Hospital Geral ao Hospital Santa Rosa para fazer um eletro-encefalograma e desde aquele momento não me simpatizei nenhum pouco com o veículo.
É carregado de energias negativas, tenso, mesmo que fosse apenas para um exame, aquele movimento, aquela sirene ligada, os carros se abrindo pra ela passar, dava a impressão de últimos minutos que alguém ia morrer a qualquer segundo.
E é assim toda vez que entro numa ambulância.
Mesmo agora que já conheço as equipes de emergência, e na  maioria das vezes vamos conversando durante o caminho e falando de como o Angelo cresceu, ainda é pra mim uma estratégia de fuga, pois estar ali me deixa extremamente angustiada: as vezes minha pressão cai, me falta ar, náuseas e quando chego ao hospital não consigo nem segurar meu filho nos braços.
Lembro-me quando era necessário fazer algum exame de controle, ou por alguma suspeita de doença e eu sabia que teria que pedir a ambulância (nesta época eu já estava trabalhando fora) era o dia que eu não conseguia trabalhar direito, pois sabia que no dia seguinte passaria por aquele desespero.
Minha mente ficava  distante eu ficava lutando pra esquecer a situação que iria enfrentar de entrar naquele carro e pior ainda, entrar num hospital.
Por vezes meu marido teve que faltar ao trabalho porque eu não tinha condições emocionais de cumprir meu papel.
Uma das melhores coisas foi quando tivemos autonomia para leva-lo as suas consultas com nosso próprio carro, mas as vezes ainda preciso pedir a remoção por ambulância e é um pesadelo só de imaginar.

O HOSPITAL

O maior de todos os meus medos desde que deixamos nossa temporária "residência hospitalar" era exatamente de voltar pra lá.
Curiosamente o mundo parece conspirar contra você nestas situações. As vezes eu ligava a tv para assistir ao telejornal e exatamente naquele momento estava passando alguma noticia sobre bebês, uti, sobre pais que agridem filhos. E subitamente eu me desligava do mundo a minha volta, podia ouvir o som dos alarmes disparados da UTI, ouvir o choro das mães que perderam seus filhos, ver aqueles braços esguios enfaixados tomando soro e então eu perdia o controle sobre minhas emoções. 

Corri muitas vezes pro banheiro pra que ninguém percebesse e la chorava desesperadamente. Eu não queria voltar pra la, não queria, não queria!!!!
E quando alguém me perguntava algo sobre o Angelo, algo sobre o tempo de sua internação era o mesmo resultado. Eu começava a contar com tranquilidade como fora aquela experiencia, até que minha mente me reportava novamente aquela situação e meu "eu" simplesmente e puramente humano, de mãe de primeira viagem, de ainda filha, de ainda menina, meu coração ainda jovial, gritava inexperiente que não queria estar ali, queria fugir!

Era este mesmo sentimento quando ia levar o bebê para fazer os exames, para consultas. Eu pisava na porta do hospital lutando contra meus sentimentos, contra minhas forças, contra tudo o que eu queria fazer: sumir!
Pra piorar a situação. Muito antes de engravidar cultivei o habito de assistir um seriado de rotina hospitalar chamado "Grey's Anatomy" e como fã que era, não conseguia parar de assisti-lo, até que observei que aquilo estava me fazendo mal, pois estava mantendo vivo todo aquele sofrimento dentro de mim e tive que parar de assistir, ate que eu soubesse separar minhas emoções.
Meu desespero se tornou crônico e também um segredo que só meu esposo sabia. Por varias noites tive crises de choro inconsoláveis e as crises começaram a me tomar de forma que não escolhia mais hora nem lugar. No trabalho, num passeio, numa visita a um amigo, por vezes eu era remetida a todo aquele pesadelo e as lagrimas fugiam dos meus olhos sem que eu as pudesse conter.
Tenho vergonha de pensar quantas pessoas  me viram chorar, e quantas talvez pensaram que eu fiz aquilo pra chamar atenção ou pra ser tomada como coitada.
Mas só quem vive esta situação pode saber que tudo o que queremos é ser comum, não ser herói nem vilão, ter apenas paz de espirito.
Enfim o tempo foi passando, a rotina do bebe mudando. Sem tecnicos de enfermagem em casa, com visita medica a cada 15 dias e não toda semana, somente fisioterapia, fono e terpia ocupacional , isso era o mais legal de se ver, quando se tratava de velo evoluir e não simplesmente sobreviver.
As feridas foram se curando e caindo no esquecimento, mas vez ou outra voltava a doer.
Ate que um dia uma amiga muito próxima e prestes a dar a luz pediu pra que eu a ajudasse no hospital pois não tinha a quem pedir, ja que sua mãe mora em outro estado e não poderia estar aqui.
Eu quiz ajuda-la quiz muito, mas sabia que não podia faze-lo. Primeiro porque não tinha com quem deixar meu pequeno e segundo porque eu era incapaz, não queria entrar no hospital, estar lá por melhor que fosse o motivo, não eu não consegui!

Eu chorei por me sentir fraca, por me por no lugar dela e saber como é precisar de ajuda e não te-lo. Como é esperar que alguém esteja com você e ninguém se esforçar e evitarem seu problema. Afinal, o problema é seu!
Mas isto era como um pré-aviso a resposta veio em seguida.

Na mesma semana em que ela se internou para dar a luz, Angelo foi internado com ruptura no cateter ligado a válvula e foi submetido a cirurgia de reposição.
Foi então numa tarde de quinta feira dia 8 de março, que recebemos a guia de internação e uma prescrição de cirurgia de emergência, e la estava eu mais uma vez no hospital junto ao meu filho e meu esposo.
Mas eu não estava sozinha, o Senhor mandou seus anjos pra me acompanhar. Respirei fundo e segui para mais uma batalha, para mais uma luta, um desafio: vencer o medo!