segunda-feira, 2 de abril de 2012

ENFRENTANDO O MEDO: DE VOLTA AO HOSPITAL!

Sempre ouço comentários a meu respeito que não são verdades. E nem estou falando das famosas "más" línguas e sim dos muitos elogios e parabenizações que recebo por tudo quanto tenho passado com meu pequeno desde seu nascimento.
Com frequência as pessoas me dizem: "nossa, você não se abala!" , "eu não conseguiria superar tudo isso como você" ou "você é uma muralha, uma mulher forte".
A verdade é que sou o que preciso ser quando preciso ser, e nada mais.
Em nenhum momento da minha vida imaginei viver tais circunstâncias, nem me pergunto porquê as vivo, simplesmente vivo o que posso, como posso, sem me sentir melhor ou pior que ninguém e acho (acho não, acredito) que todos têm capacidade de superar momentos difíceis. As vezes podem até achar que não, mas a força surge quando precisamos, isso devemos ao instinto de sobrevivência e quem não se adapta, morre! (assim diz a teoria darwinista).
O que quero dizer é que eu não sou essa muralha, nem inabalável, eu tenho medos e traumas por toda esta situação vivida, mas se não posso mudar as coisas, não adianta se desesperar perante elas (embora as vezes eu me desespere realmente).

Desde que Angelo saiu do hospital e foi pra casa em home care, enquanto o pai Rafael trabalhava, meu trabalho era acompanhar sua rotina medica, conhecer médicos, enfermeiros, receber técnicos de enfermagem, fazer consultas de rotina ou de emergência, isso exigia pelo menos 8 horas do meu dia fora alguns desgastantes passeios de ambulância.

Ah ambulância! como era terrível! até hoje não me acostumei.

Entrei numa ambulância a primeira vez para levar meu anjo (que ainda estava internado na UTI NEO  do HGU) do Hospital Geral ao Hospital Santa Rosa para fazer um eletro-encefalograma e desde aquele momento não me simpatizei nenhum pouco com o veículo.
É carregado de energias negativas, tenso, mesmo que fosse apenas para um exame, aquele movimento, aquela sirene ligada, os carros se abrindo pra ela passar, dava a impressão de últimos minutos que alguém ia morrer a qualquer segundo.
E é assim toda vez que entro numa ambulância.
Mesmo agora que já conheço as equipes de emergência, e na  maioria das vezes vamos conversando durante o caminho e falando de como o Angelo cresceu, ainda é pra mim uma estratégia de fuga, pois estar ali me deixa extremamente angustiada: as vezes minha pressão cai, me falta ar, náuseas e quando chego ao hospital não consigo nem segurar meu filho nos braços.
Lembro-me quando era necessário fazer algum exame de controle, ou por alguma suspeita de doença e eu sabia que teria que pedir a ambulância (nesta época eu já estava trabalhando fora) era o dia que eu não conseguia trabalhar direito, pois sabia que no dia seguinte passaria por aquele desespero.
Minha mente ficava  distante eu ficava lutando pra esquecer a situação que iria enfrentar de entrar naquele carro e pior ainda, entrar num hospital.
Por vezes meu marido teve que faltar ao trabalho porque eu não tinha condições emocionais de cumprir meu papel.
Uma das melhores coisas foi quando tivemos autonomia para leva-lo as suas consultas com nosso próprio carro, mas as vezes ainda preciso pedir a remoção por ambulância e é um pesadelo só de imaginar.

O HOSPITAL

O maior de todos os meus medos desde que deixamos nossa temporária "residência hospitalar" era exatamente de voltar pra lá.
Curiosamente o mundo parece conspirar contra você nestas situações. As vezes eu ligava a tv para assistir ao telejornal e exatamente naquele momento estava passando alguma noticia sobre bebês, uti, sobre pais que agridem filhos. E subitamente eu me desligava do mundo a minha volta, podia ouvir o som dos alarmes disparados da UTI, ouvir o choro das mães que perderam seus filhos, ver aqueles braços esguios enfaixados tomando soro e então eu perdia o controle sobre minhas emoções. 

Corri muitas vezes pro banheiro pra que ninguém percebesse e la chorava desesperadamente. Eu não queria voltar pra la, não queria, não queria!!!!
E quando alguém me perguntava algo sobre o Angelo, algo sobre o tempo de sua internação era o mesmo resultado. Eu começava a contar com tranquilidade como fora aquela experiencia, até que minha mente me reportava novamente aquela situação e meu "eu" simplesmente e puramente humano, de mãe de primeira viagem, de ainda filha, de ainda menina, meu coração ainda jovial, gritava inexperiente que não queria estar ali, queria fugir!

Era este mesmo sentimento quando ia levar o bebê para fazer os exames, para consultas. Eu pisava na porta do hospital lutando contra meus sentimentos, contra minhas forças, contra tudo o que eu queria fazer: sumir!
Pra piorar a situação. Muito antes de engravidar cultivei o habito de assistir um seriado de rotina hospitalar chamado "Grey's Anatomy" e como fã que era, não conseguia parar de assisti-lo, até que observei que aquilo estava me fazendo mal, pois estava mantendo vivo todo aquele sofrimento dentro de mim e tive que parar de assistir, ate que eu soubesse separar minhas emoções.
Meu desespero se tornou crônico e também um segredo que só meu esposo sabia. Por varias noites tive crises de choro inconsoláveis e as crises começaram a me tomar de forma que não escolhia mais hora nem lugar. No trabalho, num passeio, numa visita a um amigo, por vezes eu era remetida a todo aquele pesadelo e as lagrimas fugiam dos meus olhos sem que eu as pudesse conter.
Tenho vergonha de pensar quantas pessoas  me viram chorar, e quantas talvez pensaram que eu fiz aquilo pra chamar atenção ou pra ser tomada como coitada.
Mas só quem vive esta situação pode saber que tudo o que queremos é ser comum, não ser herói nem vilão, ter apenas paz de espirito.
Enfim o tempo foi passando, a rotina do bebe mudando. Sem tecnicos de enfermagem em casa, com visita medica a cada 15 dias e não toda semana, somente fisioterapia, fono e terpia ocupacional , isso era o mais legal de se ver, quando se tratava de velo evoluir e não simplesmente sobreviver.
As feridas foram se curando e caindo no esquecimento, mas vez ou outra voltava a doer.
Ate que um dia uma amiga muito próxima e prestes a dar a luz pediu pra que eu a ajudasse no hospital pois não tinha a quem pedir, ja que sua mãe mora em outro estado e não poderia estar aqui.
Eu quiz ajuda-la quiz muito, mas sabia que não podia faze-lo. Primeiro porque não tinha com quem deixar meu pequeno e segundo porque eu era incapaz, não queria entrar no hospital, estar lá por melhor que fosse o motivo, não eu não consegui!

Eu chorei por me sentir fraca, por me por no lugar dela e saber como é precisar de ajuda e não te-lo. Como é esperar que alguém esteja com você e ninguém se esforçar e evitarem seu problema. Afinal, o problema é seu!
Mas isto era como um pré-aviso a resposta veio em seguida.

Na mesma semana em que ela se internou para dar a luz, Angelo foi internado com ruptura no cateter ligado a válvula e foi submetido a cirurgia de reposição.
Foi então numa tarde de quinta feira dia 8 de março, que recebemos a guia de internação e uma prescrição de cirurgia de emergência, e la estava eu mais uma vez no hospital junto ao meu filho e meu esposo.
Mas eu não estava sozinha, o Senhor mandou seus anjos pra me acompanhar. Respirei fundo e segui para mais uma batalha, para mais uma luta, um desafio: vencer o medo!

3 comentários:

Rosângela Rossi disse...

Oi Adriana dos Santos Rossi ‘Drika’;
Acabei de ler sua ultima postagem, e estou novamente encantada com seu diário “desabafo”, sendo assim, penso que posso expressar e representar se não todos, à maioria d@s torcedores e amantes do Ângelo Gabriel, sua trajetória, sua história, a partir de minhas palavras.
Se a caso ou com freqüência as pessoas comentam ‘sobre sua força e capacidade de superação inabalável, certamente estão corretas, e nem um momento exageram ou se enganam a seu respeito, e aqui incluiria também o Rafael Lacal, a força que emana da maternidade ou paternidade não é dúvida para quem já foi agraciado de tal forma; E aqueles que se perguntam de onde sai tamanha força? A resposta é porque ainda não são pais ou mães, e assim não conseguem dimensioná-la, lembre-se que também já fomos assim um dia.
Essa força de sobrevivência a que você evoca a Darwin, pode ate estar correta, mas é acima de tudo a força do amor, da capacidade de se doar pelo bem do outro. E infelizmente nem todos a tem e você mesma expressa isto em seu texto.
Quanto ao trauma causado pela sirene da ambulância, pelos carros que se abrem dando passagem ao ultimo sopro de vida, acredito que você poderia ver com outros olhos... Lembre-se da passagem bíblica sobre Moises e o povo Israelista.
Desta forma, insisto para que se perceba como Moises ao atravessar o mar, (aqui representado pelos caminhos percorridos pela ambulância), com o povo israelita (representado pelo próprio Anjinho e toda tripulação constante no veiculo). A você Deus pai concedeu uma missão, pois sabia de sua capacidade e coragem. Por isso a ti a confiou. Assim, não tema o caminho, ou o instrumento, ele te foi enviado por Deus que fiel em seus propósitos sempre resguarda a vida do nosso pequeno guerreiro.
Ele nunca disse que as coisas seriam fáceis, lembre-se de sua trajetória de vida e morte por todos nós.
Quanto ao choro, o medo, as angústias serão mais fáceis pra cada um de nós poder te aliviar a dor se você nos permitir percebê-la, não é necessário nos preservar...
Fico feliz ao saber que você se desvinculou de algo que parecia vicio, te chamava te machucava, diria um programa errado na hora errada.
Você não se mostrou fraca porque não pode estar ao lado da Luciana no momento em que ela deu a luz a seu 2º filho. Tenho certeza que ela sabia previamente de sua ausência, e, jamais se ressentirá, pois, sabe da luta diária que você deve travar a favor da vida de meu ‘Limãozim’.
O fato da internação do Ângelo se dar na mesma semana tratou-se apenas de uma infeliz coincidência, pois todo o problema com a válvula e o cateter já havia ocorrido anteriormente apenas não percebido, então nada tem a ver com castigo divino.
E você nunca esta sozinha, ainda que sejamos relapsas e pouco colaboradoras na sua jornada independente do motivo que nos ausente, estamos sempre com vocês em pensamento e oração.

drika disse...

Obrigada Rô pelo comentário, gostei muito dos seus argumentos e da sua observação, sei que posso contar contigo sempre. bjs

aline itaborai disse...

AMIGA,VC É FORTE SIM,ESSA FORÇA VEM DE DEUS ELE SEMPRE ESTÁ COM VC NOS MOMENTOS QUE MAIS NECESSITA ELE SEMPRE TE ACOLHE,TE DANDO AS FORÇAS NECESSARIAS.ELE TE DEU ESSE ANJO LINDO PRA CUIDAR PORQUE VC É MUITO ESPECIAL,MUITO CAPAZ NUNCA SE SINTA SÓ,CHORE QUANTAS VEZES ACHAR NECESSÁRIO PERTO OU LONGE DAS PESSOAS VC SABE SEU LIMITE O QUE CONSEGUE SUPORTAR,ADORO SUA AMIZADETENHO PRAZER EM SER SUA AMIGA BJÃO.