sábado, 1 de dezembro de 2012

A Síndrome de Dandy Walker

"E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista." 

Marcos 10:51


Quando Angelo nasceu, ninguém veio me dizer o que ele tinha. Mesmo eu passando a maior parte do meu tempo na UTI junto a sua encubadora. O diagnóstico se resumia a "o caso dele é grave" ou "ele corre risco de morte súbita" ou ainda "ele faz apneia central e convulsões". 
Não sei porque ninguém me disse do que se tratava, talvez porque nem mesmo eles o soubessem.
Quando os médicos ou enfermeiros trocavam plantão, eram minuciosamente cuidadosos em não expor o problema do meu filho na minha frente. Quando eu estava na hora da troca do plantão, eles falavam as pressas e se olhavam com aquele olhar de  "depois te explico melhor".
Ai você se pergunta: "mas você não sabia disso desde a gravidez?". Eu sabia sim que meu filho tinha um problema de má formação, mas tudo o que eu sabia era que ele tinha um cisto externo que continha liquido e que esse liquido poderia ou não ser absorvido pelo organismo dele durante a gestação. Isso era o que apareceu na ultrasssonografia como uma Meningocelle (herniação das meninges). E após a primeira cirurgia para a remoção desse cisto disse-me meu obstetra que se tratava de uma Encefalocelle pois não havia tecido cerebral dentro do cisto, somente liquido e que isso era motivo de festejar, pois assim sendo não haveriam grandes perdas para meu filho.
Contudo eu ainda não entendia direito as dimensões disso tudo, eu ia sabendo aos poucos. Sabia que apos esta primeira cirurgia talvez eu fosse para casa, se meu pequeno não desenvolvesse a hidrocefalia. E as esperanças e expectativas me motivavam a deixar tudo pronto, roupas, mobília  e estar la de prontidão para este momento.
Mas enfim aconteceu que marcaram a cirurgia de colocação de válvula para drenar o excesso de liquido de sua cabeça, pois seu organismo não desempenhava essa função como deveria. Veja abaixo um vídeo explicativo de como isso acontece.



Para realizar a cirurgia, Angelo precisava fazer uma tomografia. 
Enquanto eu levava meu bebe para o exame, acompanhada da enfermeira que segurava o cilindro de oxigênio que alimentava a necessidade do meu filho, ouvi pela primeira vez o termo "Sindrome de Dandy Walker". Pois a enfermeira ao conversar com o anestesista teve de lhe passar as informações pertinente ao paciente.
Depois desse dia vieram as pesquisas, as duvidas e os questionamentos. E aos poucos os médicos foram me pondo a par da situação. 
Eram duas pediatras responsáveis por ele na uti, cada uma delas sentou-se de frente para mim, uma de cada vez, e me explicaram do que finalmente se tratava o problema do meu filho.
E tudo o que elas me disseram e que ele não tinha prognostico, não sabiam me dizer quando ele ia andar, se ia andar, se ia falar, se iria enchergar, se poderia comer, se ouvia, se iria viver.
Eu entendi. Mas não aceitei. Claro! como todo mundo, queremos respostas concretas e não "se".
Mas com o tempo, as pesquisas, com os casos semelhantes a que me deparei tudo o que eu descobri foi exatamente o que elas me disseram. Que não havia como saber. Que cada caso era relativo, e que so o tempo me daria essas respostas. Tudo o que eu podia fazer era dar a ele qualidade de vida e terapias que colaborassem com seu desenvolvimento, para que o resultado fosse o melhor possível.

Hoje meu filho tem três anos, ainda não fala, não anda e infelizmente perdeu a capacidade de deglutir (comer) e se alimenta através de sonda de gastrostomia. Sempre fizemos todo o possível:  fisioterapia diária, fonoaudióloga,  terapia ocupacional, ate natação. Sempre em busca de novidades que ele tivesse condições de participar.
Mas aprendemos a viver com seus limites e que o amor não precisa de critérios para existir, nem a felicidade. 
Tenho certeza que ele não sera menos feliz se não andar, que ele sera menos feliz se não falar. Nos aprendemos a conviver com as adversidades e com as limitações que todo ser humano possui. Pois se criarmos critérios para ser feliz, certamente seremos frustrados, pois não ha nada no mundo que nos pertence, nem mesmo a nossa vida, podemos deixar de existir a qualquer momento. E devemos ser menos feliz por isso? sabendo que é uma condição que estamos predestinados desde o dia que nascemos? não, nos devemos nos encaixar, adaptar e viver, pois esta é uma oportunidade unica (para aqueles que acreditam é apenas uma das oportunidades), mas é uma oportunidade, temos que aproveita-la o máximo possível.

Enfim, nestes três anos, pesquisar, entender, me informar para proporcionar o melhor possível para o meu filho tem sido parte da minha rotina. Bem como tentar ajudar famílias que estivessem enfrentando o mesmo problema do "não saber".

Busquei contatos, relatos, paginas sociais, blogs. Depois de uma vasta procura onde li depoimentos e publiquei depoimentos em paginas da internet, recebi também muitos emails de mães que queriam informações sobre do que se tratava este diagnostico que acabara de receber de seus filhos: a Dandy Walker.

Para encurtar caminhos, criei este blog e também um grupo no facebook, onde hoje agregamos muitas famílias que compartilham informações sobre tratamentos, inovações na medicina, terapias e o desenvolvimento de seus filhos, tirando duvidas dos mais jovens nesta jornada no que for possível  no que houver de semelhança.


Portanto deixarei aqui algumas respostas, sobre as questões mais frequentes que me são feitas e que outrora eu também as fiz. Estas perguntas foram publicadas na pagina do facebook no dia 31/10 no grupo Dandy Walker Brasil (https://www.facebook.com/groups/230975163684540/permalink/300385863410136/) quem tiver interesse em participar seremos felizes em recebe-los.



A dúvida que não quer calar...



1 - Meu filho tem SDW ele vai andar? vai falar?


Resposta: Vai depender do desenvolvimento dele. 
Você vai ouvir muito isso dos médicos e vai ser unânime. Há casos em que os portadores da sindrome tem o leve atraso neuro-psico-motor assim como casos de atraso bem severo. Isso quer dizer que seu filho pode vir a falar e andar com um ano assim como pode levar 6.

2 - Como a síndrome vai afetar o desenvolvimento do meu filho?

síndrome é o alargamento do quarto ventrículo (nao sei se escrevi direito rs) que fica num dos hemisférios cerebelares, e afeta também o cerebelo. Há casos em que a criança tem apenas 10% do cerebelo (o caso do meu filho) como a caso em que se tem 50% e a caso em que simplesmente ele não foi formado.
Essa porcentagem é diretamente proporcional a capacidade de funcionalidade de comandos. 


O cerebelo comanda a parte motora e se encontram algumas funções cognitivas, o que explica a dificuldade para andar, ficar em pé, sentar etc. O nosso cerebro é dotado de capacidade de adaptação uma vez que  nasceu com essa falha de massa cerebelar, o restante do cerebro tende a adaptar-se a essa ausência assumindo as funções que deveriam ser exercidas pelo cerebelo, parcial ou integralmente. Por isso demanda tempo e terapias de estimulo, para estimular essa capacidade.

O alargamento do quarto ventrículo pode causar a hidrocefalia. A hidrocefalia é o acumulo de liquido cefalorreico na cabeça, causando a pressão intracraniana. Essa pressão pode levar a perda da visão parcial ou integralmente, pois comprimi o nervo óptico, e causar o olhar de sol poente bem como outras características como estrabismo.
Essa pressão também pode causar lesões no cérebro  convulsões, inclusive causar hemorragia, por isso a necessidade da válvula de derivação peritonial (existe tb outro tipo de válvula  que vai drenar o liquido para o abdomem que sera absorvido pelo organismo eliminado nas feses, urina.
Nem todos que tem SDW tem hidrocefalia e nem todos que tem hidrocefalia tem SDW.
Outro aspecto importante é que a má formação do cerebelo pode levar também a má formação do tronco cerebelar (devido a proximidade). No tronco encontra-se a função respiratória, o que ocorrendo, pode causar apneias ou outros disturbios respiratórios.
A sdw normalmente vem acompanhada de comorbidades, isto é, outras sindromes e neuropatias associadas bem como cardiopatia e pneumopatia. Isto ocorre pois uma vez que se existe a má formação do sistema central (cerebro) pode-se comprometer os demais sistemas do corpo, e geralmente essas comorbidades são mais criticas na saúde do individuo que a própria SDW.
Devido a todos esses fatores, que o desenvolvimento é muito relativo pois muito provavelmente a criança passara por muitas internações, procedimentos cirúrgicos  traumas fora as doenças normais como resfriados, nascimento dos dentes, cólicas, tudo isso junto acarreta em varias debilitações dificultando a aprendizagem e o desenvolvimento natural desde funções básicas como sentar, ouvir, andar, falar como aprendizagem escolar.

3 - Existe um tempo estimado? o que eu posso fazer para colaborar neste desenvolvimento?

O tempo é uma incógnita para todos. Mesmo com as terapias não há como prever os momentos tão esperados como a marcha e a primeira palavra. Quando falamos de um neuropata devemos entender que seu desenvolvimento carece de um treinamento constante, pois seu deficit no sistema central leva como que a um esquecimento das funções desde ao simples engolir alimento ate como segurar um objeto.
O que pode ser feito é sempre buscar terapias com acompanhamento de uma equipe medica formada por neurologistas, pediatras, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos. E estar atento as inovações como terapia ocupacional, equoterapia, hidroterapia dentre outros métodos que mostram mais eficacia e eficiência no desenvolvimento da criança. Lembrando sempre que o mais importante é que essas terapias estejam de acordo com a sua idade física e emocional exigidas para tal, para não serem ainda mais prejudiciais, bem como que o foco deve estar na qualidade de vida dos pequenos e não na expectativa que temos para eles comparado ao nosso desenvolvimento que é totalmente diferente.


Enfim, essas são as perguntas mais comuns que recebi, mas estarei sempre postando o máximo de informação possível e aprofundando nas questões mais complexas.
Espero ter ajudado quem precisa, e quem tiver algo a acrescentar seus comentários serão bem vindos.

22 comentários:

camillapenno disse...

OLá,passei para te conhecer e fiquei encantada com a sua história...
tmb sou blogueira de Cuiabá ...to te seguindo..bjss
www.arthurnossorei.blogspot.com.br

Daiani disse...

Olá sou professora de uma escola particular em SP e dou aula para um aluno com a Síndrome de Dandy walker, ele tem 8 anos e além da síndrome tem o cerebelo atrofiado, porém, conseguiu andar. As professoras mais antigas da escola disseram que ele entrou na escola com 02 anos, não falava nem andava e a escola o ajudou muito nestes aspectos. Ele também fala com dificuldades e passou por muitas cirurgias e hoje aparenta ser um garoto muito feliz e nós na escola o amamos muito.

drika disse...

Ola Daiani, obrigada por seu conentario..me encheu de esperança e motivaçao, que seu amado aluno seja cada dia mais abençoado com pessoas capacitadas como voce. Grande abraço.

Anônimo disse...

Oi eu gostaria de saber se existe alguma expectativa de vida para pessoas portadoras dessa síndrome ! por favo preciso dessa resposta :)

email p/ contato : gabryela_karoline@hotmail.com

Unknown disse...

Olã! meu nome é Elaine, tenho um filho que se chama Lucas e também tem SDW. Eu o amo, amo seu sorriso e tudo que ele faz. No caso dele trata-se de um caso muito curioso, ele andou com 1 ano e 6 meses, hoje tem 5 anos mas ainda não fala, porém entende tudo que digo. Gostaria que ouvesse mais tratamentos para esse tipo de síndrome pois sempre quando vou a novas escolas, consultórios médicos e demais orgãos públicos e privados, ninguém nunca ouviu falar da SDW. Portanto não há tratamento específico, se alguém tem algo que possa me ajudar, estou a disposição. Um grande beijo!! :) meu email eelaine.cardoso@gmail.com

drika disse...

Oi Elaine, realmente não existe um tratamento especifico por também não haver um comportamento padrão no desenvolvimento dos portadores da sindrome, aqui no Brasil não tenho conhecimento de nenhum estudo destinado a essa area, mas nos estados unidos existe a dandy walker aliance, uma ong que faz estudos cientificos a cerca da sindrome e formas de tratamento.
Aconselho vc a procurar terapias como fono, equoterapia ..sao varios os relatos de como isso ajuda no desenvolvimento.

Anônimo disse...

Olá meu nome é Katia tenho uma bebê de 3 anos e 4 meses..diagnosticada com a Síndrome de dando Walter e a Gênesis de corpo caloso. ...adotamos ela com dois meses de vida com muitos problemas. ..me dedico inteiramente para ela e seus tratamentos.....sei exatamente o que Vc está relatando...parabens por toda força e dedicação. .

drika disse...

Olá Katia, obrigada pela visita no blog. Força pra vc e sua pequena. bjs

Ana Laura da Silva barbian disse...

Olá gente tenho um bebê de 5 meses com dand Walker ele foi diagnosticado quando ainda estava na minha barriga com 4 meses de gestação quando descobrimos o seu problema que até então era tratado como raro e desconhecido ficamos desesperados devido a falta de informação mais usei vários remédios omeopaticos durante a gravidez na esperanca de meu filho nascer sem nem uma complicação aos 7 meses de gravidez tive um sangramento muito forte e ao chegar ao hospital ja estava com 5 dedos de dilação o meu bebe ja tinha uma má formação e ia nascer prematuro ia ser muito pior pra ele tive que ficar os últimos três meses so deitada meus pais so mi levantavam pra tomar banhu e fazer xixi até comer comia na cama consegui segura ele os 3 meses e ele nasceu com 39 semanas e meia quando ele nasceu o médico disse que ele tem uma variante de dand Walker ele tem uma ma formação no olho e na orelha direta mais fora isso ele ja esta ficando durinho solta alguns sons ta evoluindo muito ele faz fisioterapia fonodiologa terapia ocupacio hidroginástica e estimulação visual devido ao problema dele ele não encherga quase nada e é possível que com a estimulação visual ele possa ver alguma coisa.. tenho um instagran que postos algumas coisas sobre ele fotos das terapias e o dia dia dele se alguém se interessar e quiser trocar uma ideia E @analaurabarbian

drika disse...

Oi ana, desculpa a demora em responder. Obrigada pir seu relato. Procure- nos no Facebook temos um grupo Dandy Walker Brasil, a troca de experiências é mto importante. Venha somar conosco. Bjs

Unknown disse...

Oi Adriana,lendo os comentários percebi que tem muitas criancas com essa síndrome.Conheci está síndrome quando minha filha Mariane nasceu,a 35 anos. Passamos por muitas coisas juntas,e tudo vale a pena.Outubro ela fará 36anos.

Unknown disse...

Olá meu nome e Dayanna estou aqui em plantos de choro não consigo controla😢😢 a 4anos atrás eu estava grávida o meu Samuel e ele tbm foi diagnosticado com a síndrome e pra honrra e GLÓRIA DE JESUS CRISTO ELE ANDA FALA ELE E UM MILAGRE TBM 😢😢😢😢😢

Anônimo disse...

Ola Dayanna, obrigada por seu comentário. Infelizmente não tenho mais mto tempo pra escrever, e o blog esta desatualizado. Fico feliz pelo Samuel. Deus abençoe que sempre evolua bem. Bjs
Ass: Adriana

Unknown disse...

Ola eu também tenho uma filha com SDW ela tem 2anos e 11meses preciso de ajuda como ajudar minha pequena entre em contato comigo por favor

drika disse...

ola, entre em contato comigo por email e terei prazer em ajuda-la. bjs (meu email: adriana.rossi@gmail.com)

Unknown disse...

Cleealexebreno@hotmail.com me chama por favor vc tem zap me.manda la descobri que meu bebe vai ter essa sindrome me.ajudem

Unknown disse...

Olá vir sua história, fiquei feliz, você ajuda muitas maes que tem o filho( a) com dady Walker Deus abençoe cada um. 🙏🏻

Unknown disse...

Eu tive meu primeiro filho com esta síndrome Deus levou 😇😢 após 10 meses que ele morreu engravidei e minha bebe tem também está mesma síndrome não é fácil, mas Deus tá no comando sempre 🙏🏻
Ela tem um ano e 1 mês não senta, nem fala. Mas tenho fé em Deus que irá conseguir 🙏🏻

Unknown disse...

Meu filho tem 20 anos ...descobri que ele tinha essa síndrome aos dois anos de idade, realmente teve dificuldade pra andar , começou dar os primeiros passos com 1 ano e 8 meses , ele não fala tive rubéola, nasceu com perda profunda e severa dos ouvidos, hj anda demais até brigo com ele, graças a Deus tem todos os movimentos normais, mas sofre de distúrbio de comportamento as vezes parece uma criança de 5 anos .

drika disse...

Obrigada por seu comentário. Tenho visto muito sobre a questão comportamental, creio que também é característico da síndrome. Um bjo pra vc e seu guerreiro.

Unknown disse...

Fabiano, bom dia também sou proeprofes, e gostaria muito de trocar informações e experiências. Meu e-mail é bravimthyara@gmail.com
Gostaria muito de conversar com você. Obrigada.

Unknown disse...

Daiani, bom dia , também sou professora e gostaria de trocar informações e experiências. Meu e-mail é bravimthyara@gmail.com