domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma entrevista especial: PAPAI!

Depois do  nascimento do Angelo Gabriel e conforme foi sendo a nova rotina de casa-hospital-casa, sempre pensei em fazer um blog para postar o dia a dia no hospital, as descobertas, os traumas, os desafios as vitórias.
Mas era sempre tão exaustivo os dias, tantas tarefas, tantas preocupações que o tempo passava e não conseguia botar a ideia em prática.
Pensei por várias vezes escrever pra Ana Maria Braga e contar nossa história (tah podem me chamar de piegas rs) mas era com ela que eu dialogava na minha mente e desabafava. Talvez fosse minha necessidade de contar para alguém tudo o que eu sentia, e todos os medos que me aterrorizavam e que eu não podia dividir com ninguém mais próximo , pois todos a minha volta estavam tão ansiosos e receosos por tudo que qualquer coisa que eu dissesse podia ser interpretado erroneamente, criar pânico, ou julgamentos sobre mim (por muitas vezes ouvi que a culpa de tudo o que estava acontecendo era minha), ate mesmo meu pai se achava culpado (alegando que tive uma infância difícil e por isso estava se refletindo na saúde do meu filho). 
Enfim, para evitar as culpas, julgamentos, dentre outras coisas que tornavam aquela situação ainda mais complicada eu evitava dividir o que sentia com meus familiares, amigos etc.
E todo dia pela manhã antes de ir ao hospital (quando eu ainda não dormia la somente passava o dia na uti) eu ligava a TV enquanto preparava meu café e ouvia as mensagens da Ana Maria Braga, aquelas com as quais ela  inicia o programa. Eram sempre tão lindas e motivadoras, era o único momento do dia que eu ouvia algo inspirador e motivador,de resto, tudo era tenso e preocupante.


Mas eu não era a única nesta pressão constante. Tinha alguém que sentia tudo isso tanto quanto eu: o pai, Rafael.
Os homens tem por regra social serem fortes, afinal: homens não choram! certo? errado. 
Rafael por muitas vezes me deu ombro para eu chorar por horas enquanto eu dizia "quando este pesadelo vai acabar?", cuidou de mim noites em claro quando eu tinha crises de choro ou dores por não ter tido o resguardo pós-parto. Pois logo que tive alta do hospital todas as manhãs eu fazia uma caminhada de 4 quarteirões até o hospital ainda cheia de pontos e inchaço, para poder passar o dia ao lado do bebe, as vezes eu ia de ônibus as vezes o Rafael me levava de moto, mas era menos dolorido ir a pé.
Enfim, de alguma forma eu pude me expressar com alguém , chorar, mas o Rafa? ele nunca me disse como se sentia, mas eu via nos seus olhos as vezes.
Um dia enquanto lia pra ele um post que preparava para o blog, ele me disse que não era mencionado nos textos que para quem lia ele não fez nada.
Disse a ele que eu escrevia sobre o que eu presenciei o Angelo passar, mas isso não foi suficiente. Pedi a ele então que fizesse ele um texto falando de sua experiência, mas sabe como são os homens, deixam tudo pra depois e nunca o fazem!
Deste modo resolvi fazer eu mesma um texto, mas é claro não posso falar por ele, apenas reproduzir o que ele mesmo disse. Para isso fiz com ele uma entrevista, que pode ser conferida abaixo:


     1 - Como se sentiu quando descobriu que seria pai aos 22 anos?

R.: Senti muito medo! Era muita coisa pra alguém que se considerava irresponsável por si só! E daí eu descobri que teria alguém diretamente dependente de mim... Foi tenso!
Mas depois de um tempo, quando me acostumei com a idéia, foi uma delicia!

             2 - Como foi acompanhar a gestação e descobrir o problema do bebe?
R.: Acompanhar a gestação foi uma delícia. Mas quando descobri do problema do bebê, fiquei bastante preocupado, mas mesmo assim achei que fosse algo muito mais simples do que acabamos descobrindo ser depois do nascimento.

3 - Você acompanhava o pré-natal? 
R.: Quando eu podia ir, eu acompanhava, mas em algumas consultas eu estive trabalhando, portanto não posso dizer que acompanhei 100%.

4 - Durante consulta de pré-natal você alguma vez pode ouvir o coração do bebê, como foi ouvir o coração do seu filho pela primeira vez?
R.: Sim, eu ouvi. Nós 2 ouvimos pela primeira vez no mesmo dia, foi lindo! Foi o primeiro momento que eu me senti pai de verdade!

5 - Na hora do parto o que sentiu sabendo que o bebe iria para a uti sem ao menos poder ve-lo antes?
R.: Na verdade, nós já sabíamos que isso aconteceria, então não foi muita surpresa, mas fiquei decepcionado em sair de lá sem ver meu filho.

6 - quando viu seu filho pela primeira vez? O que sentiu ao ve-lo pela primeira vez?
R.: Vi ele na primeira tarde após o nascimento, no horário de visita. Senti uma felicidade imensa em estar ali do lado dele, segurando a mãozinha dele. Tudo que eu queria era trocar de lugar com ele, pra que ele não sofresse nada do que sofreu naquela UTI!

7 - Durante a internação do Angelo com que freqüência ia ao hospital?
R.: Não lembro se deixei de ir algum dia, pelo que me lembre não. Até no dia em que eu me acidentei eu fui vê-lo (na verdade me acidentei no caminho p/ vê-lo, mas fui mesmo assim)

8 - Como se sentia dormindo sozinho em casa enquanto sua esposa dormia no hospital com o bebe?
R.: Sentia-me impotente. Queria tanto poder trocar de lugar com ela para que ela pudesse descansar!

9 - Voce chegou a passar noites no hospital com o Angelo sozinho, sem a presença da mãe?
R.: Sim, algumas, depois que o Anjo saiu da UTI (e no período em que esteve no Hosp. Jardim Cuiabá, passei algumas noites com ele lá também)

10 - Angelo fez 3 cirurgias, como foi este momento?
R.: Foram momentos tensos! Ficava ansiosamente esperando o mais próximo que eu podia (normalmente era na porta da ala cirúrgica do hospital), doido pra ter uma notícia do meu pequeno!

11 - Qual sua opinião sobre a equipe medica que acompanhou o caso? (obstetra, pediatra, neurocirurgião, enfermeiras, técnicas de enfermagem).
R.: Vamos lá: Obstetra: Gostei muito do dr. Antonio. Achei as explicações que ele deu sobre o caso muito boas, mesmo tendo descoberto que era muito maior do que eu imaginava dps q o bb nasceu.
Pediatra: Dos pediatras que acompanharam o Angelo no período de Hospital, a que mais gostei foi a Dra. Maria de Lourdes, mesmo tendo ficado chocado com algumas coisas que ela disse (que nosso filho seria um vegetalzinho, que não iria se movimentar e tals), ela foi a que eu mais vi correndo atrás das coisas para meu filho.
Neurocirurgião: Como todos sabem, o Anjo teve 2 Neurocirurgiões. Um que não citarei o nome, o primeiro, se dependesse de minha vontade, hoje estaria internado com algum problema neurológico, e tendo um médico exatamente igual a ele para cuidar dele. Quem sabe assim ele aprende a ter valor humano. O outro, o Dr. Roger Thomaz, é quem merece qualquer mérito por meu filho estar bem-cuidado por dentro (cirurgicamente falando).
Enfermeiras: Eu realmente lembro pouco das enfermeiras, até porque as mais marcantes eram as do HGU, e a época que ele esteve lá eu não acompanhava muito pois só podia entrar nos horários de visita.
Técnicas de Enfermagem: Essas sim eu tive bastante contato, principalmente em casa, já no regime Home Care. Angelo teve muitas técnicas, mas 4 delas se sobressaíram: a Verônica, com quem temos (pouco) contato até hoje, a Marinês, a Elaine e a Adriana. Estas 4 foram as melhores técnicas que o Anjo teve, em minha opinião.

12 - Se pudesse estar no lugar da sua esposa durante o período que ela ficava no hospital você teria feito? Por quê?
R.: Teria, sim. Primeiro, pra passar mais tempo ao lado do meu filho. Segundo, para que minha esposa pudesse ter um pouco mais de descanso.

13 - O que mudou na sua vida apos o nascimento do Angelo?
R.: A pergunta correta seria "o que NÃO mudou", e eu acho que não tem nada que eu possa dizer que não mudou. Fui me tornando uma pessoa mais responsável (ainda tem muito pra melhorar, mas já é um começo), descobri o valor de cada minuto de sono, estou descobrindo, até hoje, o que é ser pai (e cada dia mais me empolgo com isso), estou descobrindo o que é TER um pai, entre várias outras coisas.

14 - Como foi receber alta do hospital? 
R.: Foi uma maravilha! Apesar de saber que iríamos sair de uma prisão hospitalar para uma domiciliar, só de saber que eu iria ter meu filho em casa, já era fantástico!

15 - Qual foi o momento mais dificil desde o nascimento do Angelo até os dias atuais?
R.: O momento mais difícil, pra mim, foram os dias antes da última cirurgia: A correria atrás daquele maldito neurocirurgião estrelinha, o sofrimento do Anjo (e nosso por tabela), entre várias outras coisas.

16 -  Qual sua opinião sobre o home care e os profissionais que fazem atendimento.
R.: O regime de Home Care em si é muito prático, pois tem-se todo o atendimento necessário dentro de casa, sem precisar ir ao hospital todo dia e muito menos ficar internado. Quanto aos profissionais, varia muito: Há bons profissionais, como a equipe que atende o Angelo hoje, mas também há pessoas que se aparecessem na nossa porta de novo, nem deixaríamos entrar.

17 - Quando de fato se sentiu pai?
R.: Acho que vesti o uniforme de pai no momento em que segurei o Anjo pela primeira vez no colo.


18 - O que o Angelo significa pra você?
R.: Força de Vontade, valorização de cada passo dado, carinhos, beijos, mordidas, risadas, Pocoyo, noites em claro, dengos... e uma felicidade imensa em ter aquela coisa gorducha na minha vida!

19 - O que teria feito diferente para o bem do angelo, se pudesse voltar no tempo?
R.: Não teria cometido erros que me fizeram passar alguns dias sem quase ver meu pequeno.

20 - Qual seu recado para os casais que se preparam para ser pais e mães, ou que tem filhos especiais?
R.: Futuros papais e mamães: Gente, ser pai assusta. Mas é o susto mais gostoso de se ter na vida!
    Pais de Crianças especiais: Meus parabéns, vocês foram abençoados com uma criança que dará muito mais alegria que qualquer outra, e mostrará a vocês o valor das pequenas coisas!

10 comentários:

Muriel Cristina disse...

Amiga, que batalha de vocês... Realmente foi como o Rafa falou, uma criança especial vem ao mundo pra mostrar a todos o valor das pequenas coisas.

Que Deus sempre ilumine essa família maravilhosa!

Bzos :)

Gisele Carvalho disse...

Parabéns Rafa por abrir seu coraçao pra que possamos entender melhor e o que vcs passam,e o que se passa em seu coraçao.
Sempre acompanho os links novos que vcs postam.
Que os enhor possa dar a vc e a Dri força sempre.
bjs Gisele

Ana Lúcia Góis disse...

Adorei a entrevista!
Bjos

drika disse...

Obrigada Muri, Gi e Ana por compartilharem com a gente nossa batalha =)

Polli disse...

Eu sempre venho aqui, porque me faz um bem danado!!!!!! Voces (familia) são especiais! Um grande beijo! A entrevista ta show.

drika disse...

vlw Polli..saudades enormes x)

Ana Paula disse...

Lindooo!!! o mais importante eh a uniao de vcs, assim esse anjinho tera sempre mais e mais força de conseguir seus pequenos objetivos e grandes conquistas e ser cada vez mais feliz do jeito que é! Parabenss!! desejo tudo de melhor pra vcs... Ana.

Roziner Guimarães disse...

Drika, minha ex-aluna,

emocionante sua entrevista, sua garra, a força e o Amor que une vcs! Que Jesus continue iluminando seu caminho, o de sua família e, claro, o do pequeno "Anjo"! Beijos de Luz!

Onélia Guimarães disse...

Minha querida...entristeci lendo seu "relato", pois identifiquei-me, um pouco, com sua história. Tive um passado assim. Minha primeira filha nasceu com hidrocefalia....foram 11 cirurgias... a dor é imensurável!!...entendo, um pouco, o que vcs estao vivendo. Porém, minha amiga (posso chama-la assim? rs) confie naquele que nao nos abandona jamais.....Deus é sabio em tudo que faz...ele nao dá fardos pesados a ombros fracos...por isso, toque seu filho...expressem, vcs pais, o amor que vai no âmago de cada um...beijem, abracem, conversem com ele.... orem com ele.. sejam muiiiiiiiiiito felizes na maneira que Deus oportunizou esse espaço de vivência, para nós, aqui, nesse planeta. Hoje vamos fazer nosso culto, vamos orar por vcs.....e nunca percam as esperanças...dias melhores virão!!! forte abraço!!

drika disse...

amiga Onélia, somente realmente quem vive uma situação como a que vivemos sabe que tudo o que sentimos esta muito acima de heroismo ou qualquer outro merito por superar tais circunstancias. Sabemos que mais que a dor que sentimos é o pesar da impotência na missão que nos foi confiada de ser "pais". Obrigada por seu comentário e se não for pedir demais, gostaria muito de receber um depoimento seu para postar aqui. Fica aberto o convite, obrigada =)