sábado, 17 de dezembro de 2011

HIDROCEFALIA PARTE 2 - QUANDO A VÁLVULA PAROU

20 dias se passaram da colocação da Válvula de DVP, e tudo parecia ir muito bem obrigada. Os médicos falavam em alta, ou uma possível saída da UTI para o apartamento. Ângelo fazia sessões de fonoaudiologia e ja estava alternando a dieta: uma na sonda orogástrica (sonda via oral) outra por mamadeira, alternadas a cada 3 horas.

A evolução nos enchia de esperanças.
O pesadelo parecia finalmente estar chegando ao fim. 


GRANDE ILUSÃO: ESTAVA APENAS COMEÇANDO!

Como se cogitava a alta hospitalar, as pediatras responsáveis pelo acompanhamento de Anjo na UTI, queriam transferir-nos para um apartamento de internação, a fim de que eu me habituasse a cuidar dele sozinha sem a ajuda das técnicas (embora ja soubessem que eu o fazia , ao fato que passava dias e noites ao lado do berço no isolamento onde estava meu pequeno.
Para melhor entender, vou explicar como era distribuída a UTI Neo do HGU.


RISCO I : Casos considerados mais graves com risco de morte. Geralmente crianças que nascem prematuras, com órgãos mal formados, ou com problemas oriundos de partos mal sucedidos.

RISCO II: Crianças que saíram do RISCO I,  que ficam em observação, com condições de respirar em ar ambiente, porém com ainda risco de morte.

RISCO III: Crianças que apenas precisam atingir o peso ideal com dieta via oral seja por mamadeira ou leite materno, que já passaram pelos tratamentos de RISCO I e II, e não possuem risco de morte. Unica parte também em que a mãe é obrigada a ficar com o filho em tempo integral (outra hora aprofundarei mais no assunto).


ISOLAMENTOS: Eram duas pequenas salas, normalmente usada para crianças com doenças contagiosas, ou em estado gravíssimo que precisavam de observação maior.

Angelo Gabriel ficou aproximadamente 1 mês e meio na incubadora do Risco I, depois como não mais cabia na incubadora, foi transferido para o isolamento, para um pequeno berço.
Segundo as enfermeiras eu era uma mãe diferente, pois comumente as mães do RISCO I não participavam muito da vida de seus filhos, até porque mal podíamos toca-los na incubadora. Mas eu fazia questão de segurar a seringa por onde passava a dieta do meu pequeno, e aprendi passar medicação em sonda, ajudar nos curativos. Já que não podia ser mãe me tornei "enfermeira", mas fiz de alguma forma meu papel.


Deste modo, fazia tudo quase que sozinha, apenas tinha auxilio das técnicas de enfermagem, algumas até abusavam deixando seu trabalho para mim, coisas que talvez eu não devesse fazer como anotações nas folhas de enfermagem.
Mas voltando ao assunto, concluiu então a pediatra: seriamos transferidos.E assim aconteceu!
Passaram as festas de fim de ano (que para mim não tiveram nada de festivas!) e uma semana depois do reveillon fomos para um apartamento do hospital.


Eu tinha medo e ansiedade ao mesmo tempo. Ansiedade por finalmente ter direito a cuidar do meu filho e a decidir sobre sua vida, sobre tudo o que precisava. E medo por não ser capaz, ou de ser cedo demais para isto.
Os primeiros dias foram extremamente exaustivos, pois todos estavam aguardando por conhece-lo o que era impossível enquanto estávamos na UTI, afinal somente os pais e os avós podiam entrar no recinto.
Parentes e amigos foram conhecer Angelo, e eu respondia todas as vezes as duvidas e indagações das pessoas sobre o que ele tinha, o que seria dele, qual seu destino??????????????????????????
Estava cheia de duvidas! cheia de medos! eu NADA sabia sobre o futuro do meu filho, mas eu me fazia otimista e simpática, para não ver desespero ou olhares de pena sobre nós.
Foi então que o pesadelo começou.

Não me sentia segura (até porque tinha fundamento para isso) em deixar Angelo sem oxímetro de pulso (aparelho que mede o nível de oxigenação no sangue e a pulsação cardíaca), pois Anjo fazia apneia (parada respiratória) e quedas de saturação constantes (também falarei sobre isso num outro tópico).

Os oxímetros que tinham disponíveis no andar ou eram pediátricos ou de adultos e os aparelhos eram deveras antigos e cheios de problemas, as vezes demoravam em media 30 segundos pra me dar retorno de um evento de apneia. Em cada evento de apneia Biel precisava de estímulos táteis na região do diafragma a fim de estimular o movimento respiratório. Entretanto quando o oxímetro me dava essa informação o episódio em questão ja havia terminado, ou seja, meu filho passava por momentos de ANÓXIA (falta de oxigenação no cérebro).

A noite eu não conseguia dormir, passava a noite observando seu peito para perceber quando parava de respirar já que o oxímetro parava. Algumas vezes pude cochilar quando emprestava algum oxímetro da UTI NEO, mas sempre pegavam-no de volta, uma vez que o hospital é setorizado e os equipamentos são de responsabilidade do setor a que pertencem. 
Ainda assim não eram muito agradáveis as noites la,  sendo que a  cada duas horas o bebe tinha alguma medicação e as técnicas entravam sem nenhum cuidado ou respeito (não generalizarei pois tiveram poucas muito cuidadosas, quão profissionais e humanas foram!).
A rotina era: banho pela manhã, visita medica, medicações, e tudo se repetia a cada turno. Eu observava pela janela que me dava a visão da avenida da prainha, e pensava quando finalmente sairíamos do cárcere.

UM mês ficamos ali e as médicas falavam em alta hospitalar novamente, com o intuito de mantermos uma UTI móvel em casa, ou como chamada HOME CARE (cuidados domiciliares).
Até que Anjo apresentou uma regressão e piora no seu quadro. As apneias ficaram mais longas e ele chorava o dia todo,quase não dormia mais, meus braços ficavam dormentes de tanto segurá-lo. Eu passeava pelo corredor do hospital, para sair um pouco do quarto, e todos ficavam incomodados com seu choro mas nada faziam para me ajudar acalma-lo.
Quando se aproximava das 6 da tarde eu não mais aguentava, e por muitas vezes ligava chorando para minha mãe pedindo ajuda ou para minhas irmãs, infelizmente não podiam me ajudar na maioria das vezes. Ligava pro Rafael (pai), mas ele estava fazendo horas extras (não opcionais) no trabalho para compensar as faltas que teve desde que o bebê nasceu.

Ao chegar as 19 horas Anjo sempre dormia, um sono que era de exaustão. Conhecem algum bebê de dois meses que passa o dia todo acordado? Logo o horário de dormir passou a ser depois das 9 da noite e  foi ficando cada vez mais tarde. 
A alteração no quadro respiratório e no sono dele veio seguido de episodios de vômitos. Por sorte neste dia a madrinha dele a Angélica (também minha sobrinha) estava comigo pois havia sido demitida do trabalho (acho que foi Deus quem permitiu para que eu tivesse ajuda, e ela  passou a me visitar todos os dias, foi uma benção para mim) foi quando a deixei cuidando de tudo e corri com anjo nos braços para a UTI, suas apneias eram tão fortes que ele chorava então desmaiava durante o episodio de apneia, e em seguida voltava ao choro de onde parou.
Na porta da UTI pedi para entrar e disse que de la não saía até conseguir. A enfermeira disse que não podia, mas a pediatra disse que estava me esperando, e que deixou o isolamento vazio porque sabia que eu ia voltar. Acredito que ela não pensava na causa do retorno, mas pensava que eu não estava dando conta do recado.
DE VOLTA A UTI, novamente no isolamento, uma das técnicas comentou:  A CABEÇA DELE CRESCEU!
Falei que era impressão dela e não aceitei a hipotese. Logo ela saiu, e quando outra técnica entrou disse exatamente a mesma coisa. Comecei a juntar as peças do quebra cabeças, tudo o que estava acontecendo e  concluí: a válvula estava obstruída. 

Chamei a pediatra plantonista e ela não aceitou também a suposição. Mas insisti até que ela pegou a fita métrica pra me provar e foi quando infelizmente se provou o contrário. Na ultima medida antes de ir pro apartamento a cabeça tinha 46 cm de diametro e naquele momento apresentava 48,5.
Foi então um rebuliço na UTI em como este fato se deixou passar despercebido. Tentaram falar com o Neurocirurgião que colocou a válvula, ele porém não atendeu o celular, ela ligou insistentemente e ele não atendeu. Coincidentemente naquele dia, um outro neurocirurgião estava de passagem no hospital e foi chamado para avaliar  e ele diagnosticou a obstrução da válvula. Pediram que ele entrasse em contato com o dito neuro que operou o Anjo e no primeiro toque foi atendido, enquanto que as pediatras tentaram o dia todo falar com ele e não conseguiam, talvez porque viam que era o numero do hospital. Ele era mesmo um "estrelinha" como elas mesmas chamavam, tanto era que para conseguir informações sobre o procedimento cirurgico tivemos que marcar consulta em seu consultório particular. Pasmem!
ENFIM marcaram as pressas uma TOMOGRAFIA, Biel entrava naquele momento em regime de JEJUM, para a tal tomografia, contudo o dia sguinte era um sábado e ele não conseguiu realizar a TOMO porque o "estrela" não se dispos a acompanhar o exame no fim de semana, e o procedimento foi realizado somente na segunda feira demanhã.
Na manhã de segunda portanto, o exame aconteceu e eu aguardava pelas respostas do tal especialista. Entretanto para meu azar, enquanto fui comprar um lanche ele fez a visita ao bebe e assim redigiu em seu prontuário: VÁLVULA FUNCIONANTE. ALTA E ACOMPANHAMENTO COM PEDIATRA!
Não acreditei quando vi, pois a pediatra fez questão de me mostrar e tentar me convencer do fato. Eu finalmente desci do salto. Estava exausta. Não aguentava mais ver meu filho sofrer, evidentemente seu choro era de dor de cabeça. A pressão intracraniana era cada vez maior!
Voltamos para o apartamento ( não era tao seguro mas pelo menos eu não precisava dormir em cadeira). E passamos a medir a cabeça dele todos os dias até arrumarmos outro neurocirurgião.
E desde este episodio se passou um mês. Finalmente conseguimos o especialista dr Roger (este faço questão de citar). Ele prontamente examinou o bebe e em seguida marcou sua cirurgia. Entretanto não poderia ser no HGU pois o Angelo (agora com 3 meses) precisaria de uma UTI pediatrica enquanto que a do hospital geral era somente neonatal.
Anjo recebeu alta para ser reinternado no hospital Jardim Cuiabá, foram 3 dias de internação ate a cirurgia. Neste momento sua cabeça ja tinha 52cm de diâmetro. Eu não suportava carrega-lo por causa do peso da cabeça e não via a hora tanto quanto ele (acredito) daquele pesadelo chegar ao fim.
A cirurgia aconteceu e foi um SUCÉSSO. Um mês depois recebemos a alta hospitalar em regime de Home Care e assim estamos, mas nada melhor que ver a expressão de alivio no semblante de um pequeno anjo.








14 comentários:

Ana Lúcia Góis disse...

Nossa Drika, nao posso imaginar o qto voces e o Biel sofreram nas maos do dr. Estrelinha (sei de quem vc esta falando), mas graças a Deus que voces encontraram outro "anjo" pra colocar um fim no sofrimento do Anjo! Um beijo*-*

drika disse...

é ana..so quem viveu o que vivemos...sabe como é..somente Deus mesmo é quem podemos de fato confiar =)

Daniela Gimenez disse...

Adriana o que posso dizer diante deste lindo Blog do Angelo é que você é um exemplo pra mim...exemplo de amor incondicional,paciência,dedicação,carinho e sabedoria para lidar com a síndrome do pequeno Angelo..quando você me disse do blog dele..não vi a hora de chegar em casa para olhar...fiquei muito mechida e confesso que vejo o quanto o Angelo é querido e amado por vocês...Vejo em vocês uma família abençoada por um anjo lindo e querido: Angelo ..abraço,
Daniela Gimenez (Fisioterapeuta)n

drika disse...

Obrigada pelo comentário Dani =)bjs

Anônimo disse...

Oi adriana, sou pai de uma bela garotinha de dois meses que está prestes a se submeter a uma cirurgia para colocar a válvula. A história de vocês nos serve de inspiração e conforto. Como vai o ângelo atualmente?

Alexandre, recife

drika disse...

Oi Alexandre, obrigada por sua visita ao blog. O Angelo atualmente esta internado tratando de uma pneumonia, a valvula esta funcionante graças a Deus. Mas ele fez nova troca em março deste ano vai encontrar relato sobre isso no blog. Fico feliz em poder ajudar. Saúde e força pra sua princesinha. abçs

Anônimo disse...

ola Adriana, sou mãe de uma princesinha q também chamo de meu anjo. Ela nasceu com Hidrocefalia importante. e com 10 dias de vida colocou a sua primeira válvula. ficou td bem ate que um dia em consulta de rotina o neuro constatou q a válvula precisava ser trocada. ela estava com 5 meses e então foi feita a troca, mais a partir dai começou a luta. hj ela se encontra com 1 ano e 4 meses e se encontra internada desde essa cirurgia a 11 meses. ja passou por mais de 20 cirurgias e sem sucesso. foram muitas ventriculites constantes,e agora seu peritônio não absorve mais o licor. esta esperanto os neuros decidirem
qual sera o seu futuro, pensam em fazer a cirurgia ou no diafragma, ou no átrio do coração. Mais ela esta nas mãos de Deus ele sim sabe o que é melhor para ela. Mesmo assim ela é super inteligente fala td. estamos aqui esperando em Deus obrigado por compartilhar a sua historia, então decidi compartilhar a minha também. Sorte para nós e que o papai do céu nos ajude e de forças. PARABÉNS POR SER ESSA MÃE DEDICADA> bjs

drika disse...

Amiga deixe seu email para eu entrar em contato, gostaria de saber mais sobre sua historia. bjs obrigada pelo comentário.

kelly disse...

oi eu tenho 27 anos e coloquei a válvula quando tinha 1 ano e 8 meses tive q trocar aos 9 anos e levo uma vida super tranquila com alguns cuidados mas normal tenho 2 filhos enfim so queria dizer que td pode ser normal e q também tive uma mae q lutou por mim como vcs lutam!!!!!

Anônimo disse...

Boa tarde, à todos...

Parabéns aos Pais, familiares que lutaram. Tenho Hidrocefalia já passei por 7 cirurgias e varias complicações, mas hj estou ótimo, a Hidrocefalia nunca foi um problema para min, mas sim o impulso para vencer os obstáculos na vida. Hoje sou Gerente de Projetos, sempre levei uma vida normal...Estarei em oração para Vcs...Fiquem com Deus..

sabrina haas disse...

Olá Adriana. Sou mãe de um menino de 8 meses que adquiriu hidrocefália após uma hemorragia grau 4. Gostaria de lhe enviar meu email para que possamos conversar. sabrina.haas@unijui.edu.br, meu wats é 55-96476130 e meu face é sabrina haas. é muito bom ouvir, eu passei pelo mesmo pesadelo, foram 8 cirurgias já desde o inicio o chorro constante juntamente com os vômitos, não é fácil mas Deus é maior e está na frente de tudo. Bjs

Unknown disse...

Olá Adriana, muito bonita sua história e sua luta.
Meu pai estava com hidrocefalia decorrente de um aneurisma cerebral, ele fez a cirurgia, colocou a válvula e tudo estava se encaminhando bem. Nas últimas semanas notei que ele começou a ficar sonolento novamente e com muita dificuldade para falar, fiz uma pesquisa na internet e acabei conhecendo o seu blog. Acho que a válvula do meu pai também entupiu, vou providenciar uma tomografia para analisá-lo.
Apesar de triste, é confortante ler histórias de outras pessoas com problemas, dificuldades parecidas com as nossas.
Grande abraço e que seu bebê possa viver uma vida tranquila.

Unknown disse...

boa noite meu nome Cristina Fernandes estou grávida de 33 semanas e foi diagnosticado agora com 32 semana que minha princesa Sarah tem a hidrocefalia,ainda não sei como será pois estou entrando para um mundo ainda desconhecido para mim.mais eu creio q tudo vai da certo.parabens para as mães que já passa por isso.vcs são inspiração.

Adriana disse...

Cristina Fernandes, obrigada por sua visita ao blog. Esta desatualizado..mas fico feliz que ainda sirva para ajudar alguem. Espero que dê tudo certo com sua princesa Sarah, o nome ja diz tudo..FORTE! coragem..tudo ficara bem <3